12 de fev. de 2013

A simbologia do mito de Inês de Castro (Parte VII)



Assim como Tristão e Isolda que, ao se refugiarem na floresta, criaram um mundo próprio, também Pedro e Inês têm o seu em Coimbra, afastado do mundo político da corte e suas intrigas. Em ambos os casos o amor é impossível, em razão de um deles ser casado; Inês é dama de honra de D. Costança e madrinha do filho de Pedro, tal como Tristão era sobrinho de Marke. Da mesma forma que os barões da Cornualha não viam com bons olhos Isolda , não compreendiam o seu amor por Tristão, também os Conselheiros de D. Afonso IV instigavam o rei contra Inês, exigindo a sua morte. A coincidência dos túmulos dos dois casais, juntos num mesmo local para simbolizar a união eterna, a superação do amor em relação à morte
Não é suficiente falar do mito de Inês, é preciso destacar os aspectos permanentes que aparecem no que se conta e no que se escreveu, sobre o assunto. Isso implica considerar o mito como formalizador de manifestações culturais e estabelecer suas relações com outros níveis de realidade.
Ressalve-se, porém, que a significação mítica não tem a lógica matemática, por isso escapa às análises objetivas que pretendem desvelar por inteiro a complexidade humana. O mito pertence a um mundo autônomo e só pode ser compreendido pelas leis de sua própria estrutura.
Sob o ponto de vista do mito, é indiferente a realidade histórica dos amores de Inês e Pedro. O que interessa é a realidade profunda do mito que se esconde sob a liberdade de fantasia que as várias versões encerram.
Quando se estuda a organização de um mito, percebe-se que existe sempre um outro, mais antigo, que lhe empresta a seiva semântica. Assim, no mito de Inês de Castro, pode-se afirmar que a disputa entre o novo e o antigo é um dos pólos em torno do qual se organiza a lenda. A juventude está ligada ao amor e é o amor que, nessa história, passa ao primeiro plano até os tempos modernos. O amor traduz não só a ambição de conhecer o outro mas também de conhecer o mundo e agir sobre ele, descobrir suas leis e recusar todos os limites. A juventude, que tem como objetivo a volúpia do prazer, liga-se à afirmação de si mesmo, ao excesso, e procura romper o interdito. Pedro e Inês personificam a juventude, o desejo que se insurge contra o poder patriarcal, lutam contra o direito do mais velho ( D. Afonso IV) e cometem a transgressão.
Para se ter uma idéia da falta cometida por Pedro e Inês, é necessário dizer que no século XIV, os antigos justificam o moderno, a autoridade presente está garantida por um precedente no passado, da mesma maneira que o Antigo Testamento prefigura o Novo.
Ao unir-se a uma dama bastarda sem a legitimação do casamento, com ela tem filhos que poderão reivindicar à coroa ,Pedro , não somente transgride as leis de linhagem, essa comunidade de sangue que impunha aos nobres sua moral e seus deveres, como põe em ameaça os interesses do grupo. Na Idade Média, a breve duração da vida exaspera a impaciência dos jovens, daí a freqüente sublevação de filhos contra progenitores, de príncipes contra reis. É evidente que essas atitudes representavam um perigo para uma sociedade que experimentava um grande sentimento de insegurança e cuja ordem, portanto, apoiava-se na solidariedade entre os membros dos grupos em que cada um estava integrado. Os constantes desentendimentos entre Pedro, o jovem Infante, e D. Afonso IV ( o celebrado herói da batalha do Salado) manifestam as duas épocas que se defrontam. De um lado o rei, herdeiro da tradição dos barões, radicada na consciência aristocrática, produto da sociedade feudal, que justificava os atos de crueldade. A força, a bravura e a lealdade são suas armas. De outro lado, o Infante, contagiado pela regra da cortesia, situado na revelação da cultura cavalheiresca, com seu erotismo impulsivo, seu amor pela vida, manifesto no prazer das danças populares e da companhia de amigos.
Outro pólo mítico é o do amor impossível. A tragédia dessa paixão é um tema fundamental, ato que provoca a ira dos oponentes e conduz à morte. Ao apaixonar-se pelo Infante, Inês inicia um processo de oposição a seus sentimentos, levanta contra si a animosidade do Rei, dos Conselheiros e de praticamente toda a corte. No início, os seus amores eram impossíveis, porque Pedro era casado com D. Constança e, segundo o costume da época, o marido não poderia viver em mancebia enquanto não desse herdeiros para o trono. Após a morte de D. Constança, a interdição vem da parte do Estado, a quem não interessa o casamento do Infante com uma mulher, filha bastarda, pertencente a uma família espanhola - Castro -, não pertencente à nobreza de sangue.
Na história de Inês encontra-se ainda o motivo do casamento secreto. Tal como Abelardo e Heloísa, tal como Romeu e Julieta, o casamento de Inês e Pedro, realizado às escondidas, conduz à morte física ( ou à morte para à sociedade, como aconteceu à Abelardo e Heloísa, obrigados pelas circunstâncias a tomarem o hábito e “morrerem” para o mundo atrás das portas do convento. Também na Baviera, Agnés Bernauer casa em segredo com o Duque Alberto III, em 1432. Dois anos durou essa união, pois, declarada ilegítima, Agnés foi acusada de feitiçaria e afogada no rio Danúbio, quando o duque estava ausente. Repare-se na coincidência de nomes e histórias: Inês/ Agnés ( cordeiro).
A lenda das fontes dos amores também tem um significado mítico. A fonte, na tradição védica, sintetiza as possibilidades de existência e é o princípio de toda a cura, coisa que permanece até na atual mitologia cristã. Inês é a ninfa dessa fonte dos amores, que afirma o pranto e a dor da natureza pela morte de Inês, que presentifica a imagem da amada de Pedro na memória de todas as gerações de portugueses, que eterniza Inês de forma absoluta.
Ao mandar construir o túmulo de Inês, Pedro estava apenas seguindo um costume de eternizar um ente querido. Todavia, ao mandar construir seu próprio túmulo de frente para o túmulo de Inês, na capela do mosteiro de Alcobaça, Pedro realiza uma integração completa com Inês ( Pedro/pedra), uma volta aos primórdios míticos, quando os princípios masculino e feminino ainda não eram dissociados. Pedro é a pedra sobre a qual se inicia o mito e o alicerce de uma trajetória poética. Todavia, sem Inês, sem o trágico destino da história de amor vivida com ela, Pedro não passaria de mais um rei excêntrico na galeria dos monarcas portugueses. Os próprios epítetos que lhe são atribuídos por Fernão Lopes - de “o justiceiro” e o “cru” – são provenientes das suas ações após a morte de Inês, principalmente no que toca à punição dos algozes da amante.

Um comentário:

sanbornnagai disse...

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