12 de out. de 2012

O Barroco Português no Feminino- Parte I


Não temos profissão das Sciências, nem a obrigação de sermos sábias, mas também não fizemos voto de sermos ignorantes. 
Tereza Margarida da Silva e Orta. 

Podemos dizer que a afirmação do Barroco português, nos finais da segunda década do século XVII  assinalou também a abertura de um espaço triunfante para a escrita feminina no cenário literário lusitano, no qual algumas mulheres escritoras notabilizaram-se pelas obras que produziram. 
Após dois séculos em que a participação da mulher na literatura portuguesa havia sido reduzidíssima e praticamente insignificante, deu-se a irrupção de excepcionais talentos literários femininos, principalmente no terreno fecundo da poesia, no qual quase todas se projetaram. Além das poetisas religiosas Violante do Céu, Maria do Céu, Magdalena da Glória, revelaram-se, fora dos muros conventuais, poetisas do quilate de Bernarda Correia de Lacerda, Maria de Lara e Meneses, além de outras escritoras, como Mariana Alcoforado e Antónia Margarida Castelo Branco, que abrilhantaram o período barroco com a qualidade das suas obras nas áreas da epistolografia, da prosa autobiografica. 
As poetisas surgidas ao longo do período barroco, por meio da obra que produziram, comprovaram e justificaram o sucesso que alcançaram em uma época na qual a poesia era “concebida como arte da palavra, criação de beleza verbal, jogo segundo técnicas complexas visando à exibição do engenho do poeta e o deslumbramento do leitor.” [1] Tratava-se, portanto, de uma prática poética que exigia muito da inteligência e da habilidade dos poetas. [2]


A POESIA BARROCA FORA DO CLÁUSTRO.

Fora dos claustros doa conventos, com suas bibliotecas e acesso ao saber, poucas mulheres recebiam uma instrução que lhes permitisse ir além de ler mal e escrever pior ainda. Somente as meninas nascidas em famílias abastadas ou pertencentes à aristocracia tinham acesso aos livros e ao aprimoramento de suas capacidades intelectuais. Essa realidade explica a rara aparição na cena literária de escritoras vindas das camadas sociais economicamente menos privilegiadas. Para estas, a via de acesso ao saber e à cultura teria que ser buscada nos claustros de alguma ordem religiosa. 
Vale acentuar que tal situação não é exclusiva do período barroco; ela pode ser observada ao longo dos períodos literários, desde o século XV, ou seja, desde a entrada da mulher na literatura, através de D. Filipa de Almada. Foi, portanto, nos salões do palácio real que as mulheres fizeram a sua estréia na poesia, na literatura do país. 
Dentre as poetisas religiosas que se destacaram na cena literária fora dos conventos, figuram os nomes de Bernarda Ferreira de Lacerda, Maria de Lara e Meneses e Feliciana de Milão, todas três muito celebradas em sua época e freqüentadoras da corte. 
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[1] Maria Lucília G. Pires, Op. cit., p. 31. 
[2] Nem toda a poesia barroca é arte para deleite do intelecto, pois, contrastando com esta, coexistia uma versalhada satírica, jocosa, que visava ao entretenimento, à ludicidade, tal como fora praticada por grande parte dos poetas do Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende. Muitas dessas composições, segundo informa Oscar Lopes, surgiram em “concursos e outros passatempos das academias, em outeiros ou torneios poéticos realizados junto de conventos femininos, e conseqüentes amores freiráticos, que aliás constituem um dos predilectos objectos de sátira desbocada.



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